VASCO GATO

Poeta | Junho 2015 | Portugal

Há músicas que nos conhecem melhor do que qualquer pessoa, foram nossas confidentes, compreendem-nos os desejos, ouviram-nos as angústias. Perante a pergunta, o poeta Vasco Gato não soube dizer no momento qual a sua eleita, não porque não a tivesse, mas porque ao longo dos anos os temas importantes sobrepõem-se na nossa vida como camadas. Mandou uma mensagem mais tarde a dizer “a posteriori é sempre mais fácil, mas a música da minha vida poderia muito provavelmente ser esta: ‘The Saddest Song’, dos Morphine”. Assume que a música é mais fundamental na sua vida do que a escrita, quer escrever apenas quando tem algo para dizer e não fazer carreira disso, e o último poema de treze páginas que editou é uma introdução ao mundo que o filho iria encontrar quando nascesse, na altura na barriga da mãe. Em ‘Fera Oculta’, sussurra-lhe: “Que se foda a época/ digo-te já/ que se foda a sépia dos futuros/ eu quero aparecer no dia/ do teu nascimento/ desarmado como uma árvore/ sem outra missão que não/ amparar-te o susto/ e dizer-te baixinho/ bem-vindo ao continente dos frágeis/ podes parar de nadar”.