VASCO ARAÚJO

Artista Plástico | Maio 2014 | Portugal

As mesas têm fotos acima e abaixo dos tampos e umas à frente das outras, como que a atravessar o espaço e a dar camadas ao tempo. Há fotos do Ultramar, a preto e branco, um soldado segura uma mama a uma preta e exibe-a sorridente, das muitas que vimos nos álbuns de guerra que os nossos pais ou avós fizeram quando cumpriram serviço numa das colónias portuguesas, das muitas que vimos e desviámos a cara e fizemos por não guardar na memória o olhar daquela mulher exibida qual animal exótico. Tentámos apagá-lo, achámos que o fizemos, mas a impressão desse olhar ficou. É a porta dessa impressão que o artista plástico Vasco Araújo abre através dos seus trabalhos mais recentes, como é o caso da exposição intitulada ‘Botânica’, que nos obriga a colocar de novo nesse papel: o da relação de abuso com o outro ao nível mais profundo e indizível – o do íntimo e do doméstico.