RODRIGO AMARANTE

Músico | Outubro 2014 | Brasil

Fala da morte e cabe lá toda a vida, fala da falta e cabe lá toda a presença, fala de espaço e cabem lá todos os desvios. No díptico ‘The Ribbon’ e ‘I’m Ready’, pinta-se uma história de morte contada sob dois pontos de vista, como um espelho, em que a ideia de passividade e de fim indicia sempre a de oportunidade e de início. Em ‘O Cometa’, Rodrigo Amarante trouxe para perto o seu amigo e mentor já desaparecido Ericson Pires, do tempo em que estudava Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica, no Rio de Janeiro, e tornou a noção de saudade meiga. ‘Nada em Vão’ e ‘Mon Nom’ dão espaço à relação, permitem o maravilhamento dos descaminhos, não sem darem a ver, como em todo o álbum, a disciplina e a depuração estilística.

Depois de Los Hermanos, Orquestra Imperial e Little Joy, o disco a solo de Rodrigo Amarante ‘Cavalo’, editado em 2013, é um mito. É um veículo que nos permite deslocar de nós mesmos e olharmos para o ponto de onde saímos. É um veículo para sentirmos a carga mística da figura de Rodrigo Amarante, o olho do cavalo, que se exponencia na experiência que cada um tem de tocar no Rodrigo durante uma actuação sua e de o Rodrigo devolver, a cada um, esse toque.

Numa tarde de sol de Outono, Amarante refere que é mais pessoa de crer para ver do que de ver para crer, fala sobre o seu lado punk na atitude em abraçar o risco e o desconhecido porque não vira a cara à sorte e diz não ter a pretensão de mudar o mundo apesar de ter. O aqui e agora de duas pessoas, uma nascida em Março e outra em Setembro do mesmo ano, uma na Alemanha e outra no Brasil, que se encontram em Lisboa para conversar numa tarde de sol de Outono.