MIGUEL BONNEVILLE

Artista performativo e visual | Maio 2019 | Portugal

Em Novembro, fez um percurso com uns sapatos que estavam a magoar-lhe os pés no meio de uma serra ao pé de Bilbao e, depois, teve de fazer o caminho de volta feito louco da aldeia, sapatos na mão e uma baguete a sair do saco, a caminhar de meias e a chover. Miguel Bonneville encontrava-se numa residência artística e estava a ter um bloqueio. Foi aí que percebeu o porquê: não estava a pensar a morte para esse seu trabalho, ‘A Importância de Ser Simone de Beauvoir’. A morte enquanto urgência, a morte enquanto desânimo, uma experiência de quase morte em bebé gravada no corpo, é na carga poética da morte que Miguel Bonneville encontra a ponta para novas vidas, como a fénix. Há também a morte enquanto ritual. Bonneville teve necessidade de, em 2012, criar uma perfomance onde encenava o seu próprio funeral. Foi a partir daí que passou a assinar o nome, Miguel, com um traço por cima, numa assumpção clara de que a arte implica, cada vez mais, uma anulação do eu, do ego. Para Bonneville, interessa-lhe o que a arte faz, mais do que o que diz, e a fruição dos sentidos libertada das amarras do racional foi o que em parte o levou a pegar em Bataille e a criar o seu último espectáculo integrado na série ‘A Importância de Ser’. Levada a cena agora em Maio no Teatro de São Luiz, em Lisboa, em ‘A Importância de Ser Georges Bataille’ a dança assume-se como uma forma de atingir estados mais elevados de consciência.