GABRIEL FERRANDINI

Músico | Julho 2017 | Portugal

Chega a ser pornográfico ver Gabriel Ferrandini tocar bateria. Músico e instrumento funcionam como o prolongamento um do outro, numa gestão que Ferrandini faz perfeita entre sensibilidade e inteligência. Ouvir Gabriel Ferrandini tocar é acompanhá-lo nas perguntas que faz e nos caminhos que percorre para tentar respondê-las. É nessa insegurança, permitida pelo facto de a questão do domínio da técnica não se colocar há muito, que reside o convite com que seduz o ouvinte. Ferrandini diz-nos por isso que a perfeição nunca é a meta, o maior desafio de um músico é o da clareza. Conta-nos que o exercício de pensar o espectáculo que deu a solo no Teatro Maria Matos, em Junho, foi todo prévio. O concerto, a que deu o nome de ‘Tudo Bumbo’, foi totalmente improvisado, tirando os primeiros minutos em que deu umas pancadas iniciáticas num gongo japonês. À improvisação chama-lhe a capacidade de lidar com o medo – e de encontrar aí a sua liberdade. E remata: o controlo e a segurança são uma coisa muito perigosa, um lugar onde deseja não chegar a estar.