DANIEL BLAUFUKS

Fotógrafo | Maio 2014 | Portugal

O dia de inícios de Maio ia já escuro; o vento fazia-se ouvir nas folhas das árvores do jardim e chegava à cara dos espectadores como que saído do vídeo que estava a ser projectado num dos muros do palácio do marquês de Pombal, na rua do Século, em Lisboa. O edifício alberga hoje o Carpe Diem e o vídeo de Daniel Blaufuks era exibido a propósito das comemorações dos 5 anos de existência daquele laboratório de fotografia. Intitulado ‘Carpe Diem’, o filme dava a ver espaços do palácio, que foi também casa do compositor Luís de Freitas Branco, e havia planos tirados de dentro para fora, a apontar para o jardim onde nos encontrávamos; e, lá, as folhas das mesmas árvores também se mexiam. Do lado de cá, um avião acabava de passar, algumas pessoas iam falando baixinho e um telemóvel iria tocar, mais à frente. No vídeo projectado no muro beige velho com veios de musgo, um avião também acabava de passar, algumas pessoas iam falando baixinho e um telemóvel iria tocar, mais à frente. Ao som das composições para piano de Freitas Branco, a experiência culminou num momento de sobreposição: estava a ser projectado no muro um plano que mostrava aquela mesma parede, filmada cinco anos antes, cuja significação remetia para o tempo em que o compositor português habitava aquela casa e aquele jardim. O trabalho de Daniel Blaufuks – e os vídeos de Blaufuks são fotografia – é este acto: o de dar-nos a experiência do tempo que, camada após camada, se vai colocando sobre a memória, tornando-a numa figura viva, ficcionada e frágil. As fotografias, meticulosas, que se demoram a acontecer, são, em essência, uma questão de profundo respeito.