Ilustrador | Janeiro 2015 | Portugal
O argumento não podia ser mais contundente. André Carrilho não concorda com as afirmações do Papa. Se uma pessoa insultar a sua mãe é um parvo e vira-lhe as costas, ao contrário das declarações do Supremo Pontífice a propósito dos atentados à redacção de Charlie Hebdo em que defendia que devia haver limites à liberdade de expressão através do exemplo de que se alguém ofendesse a sua mãe levaria um murro. O próprio André já tinha decidido deixar de usar imagética religiosa de forma generalizada para criticar atitudes ou actores específicos, prefere ser hoje um sniper a estar a pescar com dinamite, como nos metaforiza.
A desenhar não é espontâneo, precisa de pensar, de fazer jogos e analogias visuais, por vezes junto de quem está a seu lado. Com a ilustração, André Carrilho quer que o olho do espectador se foque em pontos cujo movimento é controlado pelo da sua mão, traduzido no desenho. Na caricatura, a deformação dos corpos retratados confere-lhes movimento, uma dança, como que uma necessidade de desarmonizar para lhes conferir harmonia.
Com trabalho impresso em publicações como The New Yorker, The New York Times, Vanity Fair, Independent on Sunday, Harper’s ou Diário de Notícias, Medalha de Ouro na categoria de Portfólio de Ilustrador pela norte-americana Society for News Design em 2002, André Carrilho diz-nos que a felicidade é dependente de um propósito. O desenho e o amor são as únicas coisas que lhe dão um propósito.